domingo, 26 de agosto de 2007

1

“Oi! Nunca te vi aqui... Você vem sempre?”. Leandro sabe que aquele bofe nunca pisou ali antes. “Não. É a primeira vez...”, respondeu Oscar. Oscar é o tipo de cara que num lugar GLS atrai todos os olhares. “Aceita?”, Leandro oferece o copo, suado com várias pedras de gelo dentro que se dissolvem em meio a um líquido azul. “O que é isso?”. Como se admirasse a bebida azul, Leandro ergue o copo diante dos olhos e como num passe de mágica as luzes da pista fazem que raios azulados partam do copo em direção a face dos admiradores. “É vodka com enérgico. Gosto da cor.” “Legal. Achei que gostasse de beber... Obrigado. Eu não bebo nada muito forte.” Diz Oscar pronto para deixar aquela figurinha que exala ares de estou me oferecendo para você, quer? “Não é forte. O energético quebra bem a vodka.” Leandro tenta convencer, sabe que um bofe algumas doses acima da chata sobriedade dos normais é muito mais interessante. E muito mais fácil de ser convencido a fazer coisas... “Ainda assim, não. Obrigado.” “Qual o seu nome?” Leandro percebe que o bofe está para escapar. “Oscar. E o seu?” Oscar pergunta mais por impulsividade do que por quer saber. É indiferente para ele saber o nome daquela criaturinha estranha. “Leandro. Muito prazer, Oscar.” “Muito prazer, Leandro.”

Antes que tivesse tempo de dizer qualquer coisa, algo que o livrasse daquela companhia, foi puxado por um Leandro que convida: “Vem, vamos dançar, adoro essa música.” Levado por pernas que pareciam não obedecer ao comando da sua vontade, Oscar seguiu Leandro. Os dois dançam. Os olhos de Oscar tentam se desviar dos olhos insistentes olhares libidinosos de Leandro. Olhares que percorriam todo o seu corpo, em especial um pouco abaixo da cintura e dali procuravam seus olhos como que convidando par algo. Leandro sorri. Um sorriso carregado de segundas intenções. O corpo de Oscar é bem trabalhando em academia. Ele puxa muito ferro para valer e treina jiu-jitsu. Sua vida se resume em treinar, treinar, treinar.

“Vem, vamos para o bar, é mais ‘sussi’ para gente conversar.” Leandro convida e arrasta pelo braço um Oscar constrangido. Sentam numa mesa de canto. Leandro inclina-se sobre a mesa e olha nos olhos de Oscar. “Você não bebe mesmo?” Como se fosse inacreditável encontrar alguém que não bebe álcool. “Vou pegar uma água.” “Toma bomba?” “Não. É academia mesmo. São muitos anos treinando pesado...” “Puxando ferro...” Conclui Leandro enquanto sorve do seu líquido azul.

Oscar levanta-se e vai até o bar, em seguida volta com a água. Percebe que Leandro acompanha cada passo seu enquanto volta à mesa. Sente-se um pouco desconfortável com a forma como Leandro o olha. Exageradamente objetivo em suas intenções.

“Você está se descobrindo, não é?” Leandro tem certeza que Oscar é um desses bofes que sempre sentiu tesão por homem, mas nunca teve coragem de assumir isso nem para si mesmo. De repente um dia cria coragem e quer experimentar para saber como é. “É... Digamos que sou pouco experiente... Totalmente inexperiente. Sei lá. As coisas são confusas. Saca?” “Entendo. Sabe... No fundo somos todos muito parecidos. Fazemos apenas opções diferentes, uns preferem ser A e outros P, uns mantém a casca de macho, como você, e outros ficam mais alegres, como eu... Veja, por exemplo, naquela mesa ali, quatro bichas. Uma metida a intelectual sempre com aquele ar blasé na cara. O outro é um estilista pseudo-famoso que acha que pode tudo. O de camisa branca é um jornalista metido a crítico que escreve num caderno de cultura de um jornal qualquer, é o mais filha-da-puta do grupo. E o cara de regata com pinta de macho é um garoto de programa que sai com todo mundo, anda saindo com certa exclusividade com o estilista, dizem que tem pau de 24 cm, mas por grana vira passivo. Isso é o mundinho, todo mundo sabe de todo mundo. Vai se acostumando.”

Oscar ri. Realmente Leandro é excessivamente alegre para os padrões de suas amizades. Fica imaginando se os caras lá da academia o vissem conversando com um “frutinha”, como eles dizem, iam cair matando. E essa coisa de “mundinho” é um pouco preocupante sim. Sempre soube um pouco disso tudo e foi o medo que sempre o fez passar longe de lugares como este em que está. Foi preciso criar coragem por dias para entrar e estar ali. Ir se acostumando não é fácil.

“Qual sua idade?”, Leandro quer saber. “Tenho 23 e você?” “Sou mais novo, tenho 21.” Leandro não se cansa de olhar para Oscar. Ele tem o corpo mais perfeito que já viu no mundo real, igual aos corpos das revistas e sites de homens nus que gosta de ver. A camiseta muito justa que ele veste parece que não vai conter o tórax de músculos fortes como aço. E os braços? Imagina aqueles braços o envolvendo, quase o sufocando de tanto prazer que podem proporcionar. Sim, aquele cara ali na sua frente pode dar tudo o que sempre sonhou de um homem.

A delicadeza quase feminina de Leandro enigmaticamente começa a encantar Oscar em sua virilidade, traz a tona seu lado que quer possuir e proteger. Por instante tem a sensação que sente desejo em tomar aquele viadinho nos braços. Não consegue ver Leandro de outro jeito. Um viadinho. Certamente ele precisa de proteção. Com aquele jeitinho esfuziante deve ser o tipo que sofre com preconceitos. Fica imaginando o quanto já foi chamado de – viadinho, bichinha, gayzinho...

Por baixo da mesa, Leandro, o atiradinho, acaricia a coxa de Oscar. Sente os músculos delineados como os um deus grego imortalizado no mármore. Sabe que está sendo ousado e que Oscar não deve estar acostumado com esse tipo de coisa, sobretudo, em público, apesar de estarem numa boate GLS. Justo na primeira vez em um ugar daquele e Oscar foi cair logo em suas mãos, diverte-se com a ironia do destino.

“Adoro você metido dentro desse jeans tão justo que marca com perfeição esse seu corpo absurdo.” “Absurdo?” Assusta-se Oscar. “É uma expressão... Um gíria da moda, coisa de gay...” “Ah! Legal... Nunca tinha ouvido. Ninguém tinha me dito que tenho um corpo absurdo, saca?” “E como saco. Saco esse seu corpo. Esse volume entre suas as pernas. O seu saco...” Leandro esta alucinado. “O quê?” Pergunta Oscar sem entender. Leandro ri. O bofe não está acostumado com esse tipo de papo, conclui em seus pensamentos e devaneios.

“Só estou dizendo que você é gostoso. Um bofescândalo. Já ouviu essa?” “Bofe escândalo... Escandaloso? Isso deve ser meio estranho... Pelo que sei o ‘bofe’ na gíria gay é um cara macho, um macho escandaloso fica meio viado...” Leandro não se contém e ri alto. “Não.” Quase toca o queixo de Oscar que parece vindo de outro mundo. E de certa forma, vem mesmo. “Um ‘bofescândalo’, escreve-se tudo junto, é um bofe que causa. Entende?” “Causa?” “Causa... É o cara que impressiona e que causa um impacto. Porque é perfeito. É tudo! Um bofe tudo. Corpo perfeito, estiloso, gostoso...” “Ah, ta! É uma espécie de elogio...” “Exatamente”. Conclui Leandro satisfeito com a primeira que deu ao bofe sobre a dialética do mundinho.

A essa altura a mão de Leandro está entre as pernas de Oscar acariciando o volume. Oscar responde às carícias com uma expressiva ereção.

“Agora levanta e vai até o bar buscar outra água para você.” Sugere Leandro. “Não posso...” Diz um Oscar desconsertado. “Ah, pode sim.” Um sorriso malicioso estampa o rosto de Leandro. “Está louco. Como vou levantar assim...” “Ah...” Leandro faz carinha de criança querendo, fazendo birra. “Mas isso que é legal. A bicharada vai adorar. Vai... Por mim. Quando você me pedir uma coisa, juro que faço. Combinado?”

Tara de bichinha. Com certa irritação que o deixou “mais tesão” na opinião de Leandro, Oscar num só movimento levanta e vai ao bar, coisa de seis ou sete passos apenas. Pede uma água, pega a água e volta. Na volta dele Leandro tem seu êxtase com a visão do bofe excitado, aquele volume exuberante, provocado por suas mãos, mãos hábeis em deixar um macho de pau duro. Leandro faz sua melhor carinha de putinha que quer ser possuída por Oscar que volta olhando-o nos olhos como se quisesse dizer algo, algo do tipo – “estou puto com você por me fazer passar por isso”. Passar por isso significa se sujeitar aos olhares de êxtase de todas as outras bichas tomadas de inveja e que não acreditam na sorte de Leandro, que todos conhecem. Murmuram entre si – “o que aquela vadia fez para conseguir um bofescândalo?” O estilista que paga o michê cujo pau reza a lenda medir 24 cm quase cai da cadeira para melhor medir o bofe que vai ao bar de pau duro. Comenta para o seu grupo – “muito bem dotado”.

“Você me deve uma.” Diz Oscar em tom autoritário, quase uma advertência. Leandro adora ouvir. É o que mais quer ter a oportunidade de pagar tudo que deve a Oscar. “Claro. E tenho certeza que vou adorar pagar essa que devo e muitas outras...” “Você me assusta um pouco.” Oscar senta-se afastado de Leandro, distante o suficiente para ficar livre das mãos perigosas daquela bichinha que está exercendo um estranho fascínio sobre ele.

“Vamos para outro lugar?” Convida Leandro. “Outro lugar?” “É. Outro lugar.” “Onde?” “Que tal o meu apê?” “Você mora sozinho?” “Moro. Sou do interior. Estou aqui fazendo faculdade...” “O que você faz?” “Primeiro ano de arquitetura. Você estuda?” “Fazia Direito, tranquei. Atualmente só treino.” “Treina?” “Lutador. Faço jiu-jitsu.” “Meu Deus! Um lutador... Você é tudo, cara!” Leandro quase tem um orgasmo, um lutador é seu sonho de consumo. “Está de carro?” “Estou.” “Resolvido. Vamos para meu apê!” De alguma forma Leandro convence, saem os dois da boate diante dos olhares de tantos outros que querem estar no seu lugar.

2

No MSN

Leandro – diz: “Tudo bem com vc?”

Oscar – diz: “Td”

Leandro – “Pootz, achei que ontem seria legal.”

Oscar – diz: “Desculpa. Foi mal. Tente entender meu lado.”

Leandro – diz: “Entendo. Mas era só a gente aqui no apê, tinha tudo para rolar. Era só desencanar.”

Depois de uns cinco minutos.

Oscar – diz: “Desculpa. Minha mãe apareceu aqui no meu quarto.”

Leandro – diz: “Sussi.”

Oscar – diz: “Ah, cara, sei lá, vc sabe, nunca fiz isso...”

Leandro – diz: “É, mas lá na boate vc me pareceu a fim.”

Oscar – diz: “E estava mesmo. Mas na hora pintou uns grilos. Foi mal.”

Leandro – diz: “Achei que vc ia curtir que eu te chupasse...”

Oscar – diz: “Também pensei que ia curtir. Mas na hora ficou muito estranho... Não deu, cara.”

Leandro – diz: “E eu que estava achando que ia dar bem gostoso para vc.”

Oscar – diz: “Ah, cara, sei lá. Acho estranho esse papo. Até podemos ser amigos, mas não força a barra. Sinto muito, mas não vai rolar.”

Leandro – diz: “Está bem. Vc que sabe. Posso te add no Orkut?”

Silêncio. Uns dez minutos sem a resposta de Oscar.

Oscar – diz: “Cara, sabe o que é: no meu Orkut só tem minas e os “brother” lá da academia. Vai ficar estranho...”

Leandro – diz: “Tudo bem, entendi, cara. Esquece. Não vou te add no Orkut. Quer saber de uma coisa, se quiser pode me bloquear e excluir aqui no MSN.”

Oscar – diz: “Não. Já disse, podemos ser amigos.”

Leandro – diz: “Tenho que sair, depois a gnt tc.”

O status de Leandro aparece off.

Oscar lembra da noite anterior. Saíram da boate e foram para o apartamento de Leandro. Já no carro Leandro começou ferver. Queria abrir sua calça. Quis dar um beijo. Forçou a barra. Oscar dirigindo foi cortando com certo espírito esportivo e sem magoar. No apartamento, um pequeno apartamento de um quarto muito bagunçado, Leandro queria fazer Oscar tomar uma latinha de cerveja para ficar mais relaxado. Oscar não aceitou. Leandro colocou-o sentado num sofá e deixou apenas a luz de uma luminária que estava direcionada diretamente para ele. Sentou-se no chão entre as pernas e abriu o jeans. Começou dando beijos no volume do pau ainda dentro da cueca e leves modinhas. Olhava para Oscar e fazia uma cara de puta muito safada, exatamente igual de tantas que Oscar já viu em filmes pornô. Por fim tirou o pau de dentro da cueca em estado de semi-ereção e começou passando a língua em toda sua extensão. Parecia lamber um doce. Lambeu o saco também. Sempre com os olhos voltados para os olhos de Oscar. Isso causou em Oscar certa repugnância e então a ereção já era. Levantou-se e deixou Leandro no chão. Fechou a calça e disse que tinha que ir embora. Sem dar maior explicação, foi embora. Oscar ainda olha para janela do MSN. Sobre a mesa ao lado do computador um guardanapo, da mesa do bar da boate com um nome, um número de celular e o endereço eletrônico de um email/msn, são de Leandro, anotados antes de sair da boate para o apartamento. Quando add Leandro, minutos antes, tinha a intenção apenas dizer que sentia muito pelo que aconteceu e por um ponto final naquele erro. Mas depois de dizer exatamente isso, que foi um erro, não tinha mais tanta certeza assim se quer por um ponto final. Oscar pega o celular que também está sobre a mesa, digita com certa pausa os oito dígitos do número do celular de Leandro e espera chamar, uma, duas, três vezes... Até que é atendido, reconhece a voz de Leandro:

“Alô.”

3

Oscar pára o carro em frente ao prédio. Cinco minutos depois avista Leandro sair e procurar seu carro estacionado um pouco à frente no escuro da sombra de uma árvore. Ele está um tanto quanto... Esfuziante. Alegre. Re-bo-la-ti-vo. Ai, ai, ai... Tudo bem! Veste um jeans justo, uma baby-look e um cinto vermelho... So-bre-pos-to... Prefere nem olhar para os pés para não ver o que está calçando. Poderá ser um tênis vermelho de vinil comprado em algum brechó em homenagem aos clubber dos anos 90. O corpo magro faz que a silhueta não seja diferente de tantas meninas quase anoréxicas sem seios com aparência de meninos que há por aí. Talvez se Leandro tivesse um visual “emo” seria melhor para justificar – “não, ele não é gay etc e tal, é emo!”, pensa Oscar. Porque emo não é gay, apesar de parecer gay. Dizem. Mas no fundo, no fundo, bem no fundo, Oscar sabe que há alguma coisa naquele jeito de Leandro que o excita.

“Oi.”

“Oi. Ainda está bravo?” – pergunta Oscar.

“Estou.”

“Você tem que entender...”

“O que você quer comigo?”

“Não sei... Ser seu amigo.”

“Você já disse que não tem amigos gays.”

“Eu só não quero misturar as coisas.”

“Você quer levar uma vida dupla.”

“Não. Eu...”

“Você não sabe o que quer.”

“Vamos dar uma volta?”

“Não quer subir?”

“Prefiro dar uma volta... Tudo bem?”

“Tudo. Vamos nessa.”

Oscar passa em um DriveTrue do McDonald e pega lanche para os dois. Comem dentro do carro. Oscar dá a partida e segue sem destino, nenhum e nem o outro fala nada. O som em volume alto, os vidros abertos, o vento da noite... Rodam por ruas movimentadas, depois mais desertas e finalmente Oscar estaciona em lugar bem deserto.

“Cara. Nunca fiz isso. Nunca tinha acontecido comigo antes de ficar com um cara.” – Oscar.

“Você pode não ter feito, mas acho que sempre teve vontade.”

“É diferente. Está bem... Admito, faz tempo sim que tenho vontade. Mas é barra, minha vida...”

Leandro inclina-se sobre Oscar. Com as duas mãos toca o tórax e vai descendo, percorrendo os músculos definidos sob a camiseta, sente cada gomo do abdome. Oscar de respiração ofegante não reage, apenas reclina o banco para dar mais espaço para Leandro. Surpresa. Depois do que pareceu uma eternidade, tempo em que Leandro tocou Oscar como que enfeitiçando com olhos que não se desviaram uns dos outros, Oscar sai dessa posição passiva e puxa Leandro com força para junto de si. Rola um beijo. Um beijo que parecia tão distante de acontecer. A princípio uma língua reticente entra na boa de Leandro, mas aos poucos vai invadindo com lascívia quase até a garganta. Da boca ao pescoço. Oscar arranca a camiseta de Leandro e lambe os mamilos rosados, a pele é branca, lisinha... As mãos de Leandro já abriram o jeans de Oscar e seguram o pau duro. É grosso! Acaricia com os dedos delicados que envolvem o membro como tentáculos de um monstro marinho preste a abocanhar. Leandro liberta-se dos lábios famintos de Oscar e vai dar ocupação a sua boca, chupar o pau duro e arrancar de Oscar gemidos intensos. Com habilidade a língua de Leandro percorre toda a extensão do membro pulsante, lambendo também o saco liso de bolas são grandes. Se houvesse mais espaço lamberia mais, as coxas firmes etcetc. O espaço interno do carro limita tudo. Consegue engolir o pau grosso de Oscar a ponto que sentir a cabeça chegar lá na garganta. Oscar geme alto enquanto segura a cabeça de Leandro com as duas mãos. Em minutos todo o corpo de Oscar estremece e a boca de Leandro é inundada com o gosto do prazer de seu macho... Seu macho?

4

“Querido diário virtual, fico me perguntando se posso chamar Oscar de “meu macho”. Sim, ele é tudo que sonho e espero na vida. Macho, gostoso e, sobretudo, problemático. Mal resolvido e dependente. De certa forma sinto que o tenho nas mãos. Ontem foi na boca, mas espero que em breve seja dentro de mim por outro buraquinho. Quer dizer, não é exatamente mais um buraquinho, digamos que é um buraco. Também não está um buracão, não. O dicionário diz que “buraco” é – orifício, cova, toca. Gosto de toca. Então, espero em breve ter Oscar dentro da minha toquinha, tudo bem, tudo bem, TOCA, então. A primeira vez que dei, isso já faz um bom tempinho, achei que o cara, um bofe meio jegue, tinha me estraçalhado e adeus cuzinho virgem, fiquei morrendo de medo de precisar ir para o hospital consertar o rabo. Tive a sensação de ter ficado com um buraco entre as pernas que não iria fechar nunca mais. Depois voltou tudo ao normal, quando fui dar outra vez, minha segunda levada na bunda, para o mesmo cara, descobri que não estava largo. Achava que iria entrar fácil, que nada, a dificuldade e a dor foram quase às mesmas da primeira vez. O que me deixa mais encanado mesmo é o preconceito de Oscar, no fundo sei que ele me desaprova, desaprova meu jeito, como me visto e as coisas que gosto...

Ao lado do computador o celular vibra, ascende e logo vai emitir um som...

“Fala, Lelé!”

“Oi, Leandro. Tudo bem? Pode falar ou está ocupado atendendo algum bofe, sua vadia?!”

Lelé é Lélio, o estilista que está bancando o michê, segundo Leandro. Eles também estavam na boate à noite que Leandro conheceu Oscar, sentados numa mesa, Lélio, o michê, o jornalista e o intelectual metido a besta.

“Não, eu não estou atende nenhum bofe. E você, agüentando ainda os 24 cm do seu michezinho?”

“Vem cá... Quem é o bofe que estava com você na boate?

“O bofe? Meu namorado!”

“Namorado? Já? Parecia que vocês tinha acabado se conhecer...”

“Isso aquele dia. Depois disso já rolou muuuita coisa, ontem por exemplo...”

“Ah! Tah... Jean acha que conhece o bofe...”

“O quê? Aquela jornalista maldita conhece o Oscar?”

“Hummm... É Oscar o nome do bofe?”

“É! Oscar, o nome do MEU bofe.”

“Oscar... Interessante.”

“Hei, de onde Jean conhece Oscar?”

“Ele não lembra direito, acha que é de uma sauna aí...”

“Sauna?”

“É! Sauna. Esses bofes com pinta de pittboy gostam de dar suas escorregadelas. Não vê aquele ator e os amiguinhos pegando travestis e batendo em prostituta...”

“Então, tah! E daí?”

“Calma, Leandrinho. Calma. Nada a ver. Afinal, o bofe já é seu mesmo... Ai, meu outro celular está vibrando, é o Nico, deixa-me ser feliz, amorzinho.”

“Vai, vai sua venenosa ser feliz com os 24 cm do Nico.”

Sauna? Oscar não falou nada que já foi a saunas. Será? Intriga da bicha maldita. Será que Oscar conhece Jean?

Celular à mão. Agenda. Oscar. Chama duas vezes.

“Alô.”

“Sou eu.”

“Eu sei. Não estou podendo falar...”

“Você conhece o Jean?”

“Quem?”

“Você sabe quem... Aquele jornalista maldito da mesa das bichas que eu te mostrei lá na boate...”

“Não, não conheço.”

“O Lélio, disse que ele já te viu numa sauna...”

“Lélio, quem é Lélio?”

“O estilista caso do michê...”

“Cara, amanhã a gente a conversa, agora não posso falar. Pootz, não gostei nada de saber que sou assunto de bichas... Falou, a gente fala sobre isso amanhã.”

“Beijo.”

Desligou sem responder pelo menos – outro.

5

“Preciso que você me ajude descobrir se o Jean realmente conhece Oscar. Se essa história de sauna é verdade ou não.” – diz Leandro inclinado sobre a mesa em tom de conspiração.

“É! Mas essa informação não vai sair assim de graça, não.” – responde Nico cheio de si enquanto leva o copo de cerveja a boca.

“Tudo bem, tudo bem. Eu pago.”

“Paga?” – Nico ri com deboche e enche a boca de batatas fritas. “Você ainda deve uma graninha daquela vez, lembra?” – pergunta de boca cheia.

“Você disse que ia fazer um desconto para mim...”

“E fiz mesmo e ainda assim você ficou devendo.”

“Paguei o que achei justo, você nem quis gozar.” – diz Leandro em tom de impaciência e em seguida enche o copo de cerveja com cuidado para deixar com colarinho.

“Eu tinha avisado antes, lembra? Antes. O que é combinado antes é o que vale. Não podia gozar porque tinha outro programa com um figurão aí que iria pagar uma grana preta para mim foder a mulher dele enquanto ele assistia tudo.”

“Para eu foder a mulher dele.”

“Você, não. Eu. Você não foder ninguém...”

“Ta, ta. Esquece isso... O correto é ‘eu foder’ e não ‘mim foder”. Esquece. Agora estamos falando de outro negócio. Quero comprar uma informação.”

“Por que você não pergunta direto para esse Oscar?”

“Já perguntei.”

“Então?”

“Acha que eu nasci ontem? Bicha burra nasce homem. O bofe é cheio de neuras, nunca vai admitir que já ficou com a bicha podre...”

“Pergunta ao Jean.”

“A bicha podre vai dizer que ficou mesmo que não tenha ficado. Não conhece bichas?”

“Jean pode não ter ficado, mas pode mesmo ter visto o bofe na sauna...”

“É! Pode, eu sei. É exatamente isso que eu quero que você descubra. A verdade. Se ficou, ou se só viu, ou se inventou tudo isso. Ou se coisa do Lélio.”

“Vem cá. Você não tem medo desse bofe? Cara assim um dia está transando com você, goza, fica arrependido e te mata na porrada.”

“Aiaiai... engraçadinho. Oscar não é desse tipo de cara, eu sei.”

“Vai nessa. Sei de cada história que se contasse aqui iria te fazer molhar as calcinhas de medo... Só quero saber da grana, vai ser duzentinhos, vai ter para pagar? Vai ser informação para lá e grana para cá.”

“Duzentinhos? Está louco? Muito caro, pago cem.”

“Nada feito. Duzentinhos ou esquece.”

“Duzentinhos com direito a algo mais?”

“Como assim, algo mais?”

“Você sabe...”

“Só porque você é bichinha bonitinha, acho que posso ser bonzinho e te dar de brinde... Uma chupetinha, uma rapidinha, hein?!”

“Ah! Chupeta. Seu pau nem cabe na minha boca. Quero onde posso sentir inteiro dentro de mim.”

Nico ri alto.

“Da outra vez você não agüentou.”

“Agüentei sim. O que não dei conta foi da pressão que você colocou na hora de socar...”

“Não sou uma Disneylândia, sexo para mim é uma aventura na selva, saca?”

“Saco. Alexandre Frota.”

“Vou pensar no seu caso, quem sabe no dia estou a fim de foder um cuzinho de bichinha nova, aí já é.”

“Quando você vai ter a informação que preciso. Amanhã?”

“Acho que amanhã... E a grana, você tem para amanhã?”

“Tenho. Estou com uma grana para pagar o condomínio, uso para te pagar e depois vejo essa parada do condomínio.”

“É isso aí, nenê. Assim que o Nico gosta. Com grana é outra história, grana na mão do Nico e a cueca do Nico no chão... Ah! Você ainda gosta de cheirar cueca?”

“Adoooro! Vai com uma bem usada, tipo, não troca essa que está usando hoje.”

Nico dá uma piscada. Levanta da mesa. Em pé toma o último gole de cerveja do copo.

“Falou. Vou nessa.”

“Espera. E a conta?”

“A conta? Duas cervejas, uma porção de fritas... Ah! Leandrinho, você sabe como funciona o submundo, caras como você que querem comprar informação, pagam à conta. Caras como eu que têm o que vocês querem... Nunca pagam à conta.” – Nico diz tudo isso em pé com os polegares nos bolsos frontais do jeans e com os dedos indicadores evidenciando o volume que bem vistas as coisas é o que caras como Leandro, Lélio, Jean e outros querem.

6

“Pablo. Babado, babado, babado. Adivinha quem eu vi numa banca de revista todo assustando disfarçando e tudo para comprar uma G Magazine?” – diz Jean ao telefone para o amigo que todos chamam de “metido a intelectual”.

“Quem? Algum famoso?”

“Não. Melhor. O pittboy que o Leandro está pegando.”

“Ah! Aquele que você disse que viu numa sauna gay?”

“É! Exatamente. Aquele mesmo.”

“E qual a surpresa? Você já tinha visto o bofe numa sauna, daí a comprar uma revistinha para ver o pinto de um famosinho...” – em tom de pouco caso, como se dissesse: nhê-nhê-nhê, jogando a cabeça para os lados. (saca?)

“Ah... Para você eu posso contar, é meu melhor amigo. Eu menti. Não vi nada o pittboy em sauna nenhuma...”

Pablo ri. Antes de voltar a falar.

“Jean, Jean... Você e suas mentiras. Por isso quando leio suas críticas no jornal reservo uns 50% da sua opinião para os exageros e os outros 50% para as mentiras. E as suas pseudo-notas? Quando você resolver dar uma de Nelson Rubens?! Ah! Daí é pior, dou 90% de desconto para as mentiras.”

“É diferente. Estou falando do bofe, não de fofoquinhas e tal. Escrevo o que tenho que escrever para vender jornal. Falo o que tenho que falar para dar audiência àquele programa decadente...”

Pablo suspira, como se tivesse coisa melhor para fazer do que ficar ouvindo o amigo.

“Jean. Você está inventando essas coisas do bofe porque está querendo dar para ele. Ai, sua bicha podre, te conheço, esquece?”

“E quem de nós não quer dar para bofe? O Lélio, tenho certeza que quer, eu, está bem, admito, adoraria ter aquele bofe na minha cama...”

“Cama?” – Pablo gargalha.

“É! Cama sim, senhor.”

“Sei muito bem que a senhorita adora posições nada ortodoxas. E, cama não está no seu script de fodas. Sua preferência não é mais dar a bunda na sacada para que os vizinhos do prédio da frente assistam de camarote a enrabação?”

“Melhor do que na posição: porca manca.” – Jean ri, imaginando Pablo, meio gordinho, barriga em forma de maçã, com uma perninha erguida numa cadeira, apoiado na mesma e gemendo com um operário de construção civil socando o pau sebento. Como foi o último pegou. Um pedreiro que estava trabalhando na reforma da padaria da esquina... Um pai de família quarentão chegando num “rabo de maricão”, expressão do próprio.

“Não ri das histórias que te conto, as suas são muito mais podres...”

“Podres ou não, vou pegar o pittboy, você vai ver.”

“Pegue. Mas me tire dessa sua listinha, porque pittboys marombados não fazem meu tipo.”

“Não tiro, não. E coloco mais gente na minha listinha. Até o Nico tenho certeza que viraria a bundinha com gosto para o pittboy comer.”

“O Nico?”

“Ai! Bicha. Babado, babado, babado... Jurei que esse não ia te contar, mas não agüento. Só não sei se conto ou não para o Lelé.”

“Pára, viado. Conta logo, não enrola.”

“Conheci um cara que tem um amigo, um coroa cheio da grana que pagou para o Nico comer a própria mulher enquanto assistia a cena. Depois ofereceu o dobro da grana para o Nico liberar o rabo para ele foder. Colocou o Nico de quatro e socou berrando: ‘toma seu vadio, comeu minha mulher, agora vai levar no rabo’.”

“Ah! Jean... História.”

“Não, Pablo. Verdade. O coroa filmou tudo sem o Nico saber. O cara que conheci viu o vídeo, por isso ele sabe exatamente até o que cara dizia enquanto fodia o Nico.”

“Gente. Isso é uma maravilha. A gente tem que conseguir esse vídeo para mostrar para o Lelé... Quero só ver a cara daquela bicha chique falida quando vir o bofe jegue dela de quatro levando na bunda por uns trocados.”

“Difícil vai ser conseguir o filme...”

“Se vira, bicha. Esse seu conhecido...”

“Esquece. Esse meu conhecido vai cobrar muito caro. Não estou disposto a sacrificar meu corpinho com um cara que não me dá o menor tesão.”

“Que tesão. Pensa só no vídeo. Na cara de Lélio Alcântara...”

“Depois, nem sei se ele tem como conseguir isso com o coroa, se o cara é cheio da grana não vai querer se expor.”

“Ah! Não sei. Pensa aí. Sua imaginação não é boa para inventar coisas da vida dos outros? Então, descobre um jeito de pegar uma cópia desse filme... Nico dando a bunda! A gente solta o vídeo na internet, no SexTube.”

7

Madrugada. No ponto de ônibus três “mulheres” esperam o coletivo que vai para o subúrbio. Uma delas não é mulher, é um travesti indo embora mais cedo para casa. Está com dor de dente, não consegue se quer fazer oral. A outra é uma prostituta cuja menstruação desceu, também desistiu da noite de trabalho para evitar outra situação como a da última vez, o cara a fez lamber a camisinha suja de menstruação enquanto berrava – sua vadia porca lamba essa imundície. E a terceira é Maria Cecília que vai ficar muito famosa em breve, mas ela ainda não sabe de nada. A mais ingênua das três, está encostada na estrutura de concreto do ponto de ônibus, seu olhar vazio voltado para o nada, está muito cansada trabalhou até muito tarde, é domestica. Rolou um jantar na casa dos patrões, precisou ficar até o último convidado ir embora e até o último copo de cristal da coleção estar brilhando de volta ao armário. É solteira e mora com o pai. Seu corpo não é nada atraente, se bem que suas colegas de espera também não são grande coisa, mas estão vulgar e provocativamente vestidas e à noite todos os gatos são pardos, elas devem atrair aventureiros para as maravilhas sexuais que oferecem com seus corpos bem experimentados na arte de dar prazer. Maria Cecília, não. Nunca deu. Veste-se como uma crentinha virgem, seus vários quilinhos a mais não fazem seu corpo despertar desejo em quase ninguém, a não ser no sexagenário seu Manoel, porteiro do prédio em que trabalha e que mesmo não tendo mais uma ereção, como afirma, é um velhote tarado que gosta de dizer obscenidades como – meu pau não sobe mais menina, mas minha língua é tão grande que posso foder você com ela, veja – mostra uma gigantesca língua amarelada.

Um carro preto passa em alta velocidade, freia a ponto de cantar os pneus. Cheiro de borracha queimada. O motorista engata a ré do carro e volta cantando pneus, outra parada brusca em frente ao ponto de ônibus que as três estão. As quatro portas do carro se abrem quase que simultaneamente, de dentro saltam cinco rapazes gritando, pouco dá para se entender, um deles berra – “não deixa nenhuma vagabunda escapar”. Logo na primeira freada as duas profissionais do sexo abandonam o ponto. O travesti demora um pouco para partir em desabalada corrida para salvar a pele porque ao tentar tirar as sandálias de saltos finos altíssimos, foi pego pelos cabelos por um dos rapazes, um que está de bermuda azul, sem camiseta, boné preto virado para trás e grossa corrente prateada no pescoço. Enquanto segura a presa pelos cabelos ele dá um chute na região de um dos rins do travesti que emite um grito agudo e arca-se de dor, em seguida o travesti investe contra o garotão que tem pinta de lutador metendo suas unhas no rosto dele. O pitboy solta os cabelos para defender o rosto e tenta segurar os braços do travesti, que nesse momento consegue escapar, mas antes vê a mocinha gorda caída no chão levando chutes dos outros quatro. A prostituta conseguiu escapar ilesa. O travesti corre perseguido pelo predador que berra – “vou te matar, seu viado desgraçado, você arranhou meu rosto, filha da puta”.

No chão, Maria Cecília não consegue se defender e jaz quase desacordada levando pontapés por todos os lados. Dos rapazes pode ouvir fragmentos de frases desconexas – “puta safada... biscate... gorda... feia... não vai nunca mais esquecer da lição... agradeça porque não vai morrer... paria inútil da sociedade...”. Os chutes não escolhem parte do corpo, os dedos sangram, o rosto se tornou uma massa disforme e vermelha. Os carros que passam buzinam, dão sinal de luz, mas ninguém pára. Um táxi diminui a velocidade a ponto de quase parar, mas um dos rapazes ameaça investir contra o carro, o motorista arranca para evitar um pontapé certeiro contra a porta do carro. O rapaz que foi arranhado pelo travesti o persegue por quase uma quadra, desiste e está de volta se juntando ao grupo que chuta impiedosamente e diz palavrões àquela que está caída embolada entre as pernas deles como se fosse uma bola disputada por moleques numa pelada em que parece não haver time, em que cada um joga por si.

De repente os rapazes abandonam Maria Cecília e correm para o carro, o rapaz que atacou o travesti, o de bermuda azul sem camiseta continua sozinho dando chutes no corpo da doméstica que geme caída no chão. Um deles grita de dentro do carro – “caralho, chega Oscar, vem, vai pintar sujeira”. O rapaz entra e o carro parte em alta velocidade.

Leandro vê pela TV o noticiário. Cinco rapazes foram presos na madrugada anterior acusados de espancar quase até a morte uma empregada doméstica em um ponto de ônibus. Há testemunhas que os reconheceram: um travesti que também foi agredido, mas conseguiu escapar e uma prostituta que escapou ilesa. Um taxista anotou a placa do carro e avisou a polícia. Eles foram presos na conveniência de um posto de gasolina enquanto compravam cervejas e outras bebidas. Na tela da TV a imagem dos cinco rapazes algemados com a cabeça baixa tentando esconder o rosto. Todos muito bonitos, sem camiseta, torsos visivelmente trabalhando em horas de academia, percebe-se que se trata de rapazes da classe média alta. Leandro fica estarrecido quando reconhece um deles, o que está de bermuda azul é Oscar. O telefone toca, atende. É Nico marcando para vir trazer a informação encomendada. Na TV Maria Cecília aparece saindo da delegacia acompanhada pelo pai, acabou de fazer o reconhecimento dos agressores e depor. Uma multidão de repórteres segura microfones com as logomarcas de todos os canais e faz perguntas, os fotógrafos tiram fotos do rosto cheio de hematomas. Maria Cecília ainda vai dar uma entrevista exclusiva para o Jornal Nacional e no domingo seguinte o Fantástico faz uma longa matéria sobre a vida da doméstica e seu pai. O pai de Oscar que é advogado diz aos repórteres em defesa do filho que ele não é nenhum marginal, é um rapaz estudioso que ocupa o tempo com a faculdade e o estágio no escritório de advocacia. Leandro sabe que Oscar trancou o curso e não faz outra coisa além de malhar.

8

Leandro abre a porta. Nico entra. Está no seu melhor estilo michê-gostosão. Sorridente assegura ter a informação que Leandro encomendou. “E a grana, está com a grana aí?”. Leandro responde afirmativamente. Convida para que sente. Nico senta com as pernas bem abertas, a mão com anéis prateados em três dedos fica entre as pensar sobre o volume que mal parece caber dentro do jeans justo de cintura baixa. Ele parece não saber de nada, não deve ter visto TV ou se viu não sacou que Oscar é um dos agressores de Maria Cecília a doméstica. Resolve não contar.

“E a grana?” Insiste. Leandro não sabe se vale a pena pagar tanto por uma informação que parece não ter utilidade nessa altura dos acontecimentos. Por outro lado pode valer pelo programinha que vem no pacote. “A grana está aqui”. Tira as quatro notas de cinqüenta reais do bolso traseiro da calça e mostra para Nico. “Diga o que você descobriu e se eu achar que vale, a grana passa para sua mão”. Os olhos de Nico brilham. É a vida, os donos do dinheiro têm o sexo como sua maior obsessão e os donos do sexo buscam o dinheiro oferecendo em troca como moeda de comércio, o sexo. A vida é mesmo irônica. O garoto de programa está cheio de si, parece que vai fazer a coisa mais importante de sua vida. Suspense. Como se o destino do mundo estivesse em seu poder. Ao revelar o que sabe pode provocar um desastre no mundo financeiro, as bolsas de valores poderão estremecer. Se bem que bolsas de valores são engraçadas, parecem mesmo sujeitas até aos humores dos michês. Nico parece estar excitado. Aperta o saco antes de começar a falar o que sabe. “É tudo invenção de Jean. Ele inventou essa história. O tal Oscar nunca foi visto por ele e nem por ninguém em nenhuma sauna gay, pelo menos não que se saiba. Ele também andou inventando outra história, que viu Oscar comprando uma G Magazine numa banca, mas depois desmentiu.” Ergue as sobrancelhas dando por acabado o trabalho e faz um sinal com mão, como se estivesse chamando o dinheiro que vai sair do traseiro de Leandro. E realmente o dinheiro vai sair do traseiro de Leandro. “Okay, okay. Acredito na veracidade da sua informação”. “Veracidade?”. Leandro ri e explica que veracidade é o mesmo que verdade da informação, informação verdadeira. “Depois”. “Depois do quê?”. “O dinheiro só depois da segunda parte do seu trabalhinho, esqueceu?”. Nico lembra que o combinado era a informação, a segunda parte é uma espécie de brinde. O dinheiro antes, a cortesia depois. Leandro entrega o dinheiro a Nico.

Nico solta o cinto, abre a calça e põe para fora o famoso pau de 24 cm. Está mole, mas ainda assim é bem grande. Como o pau mole mesmo bate na cara de Leandro que está sentado no sofá. “Toma, viadinho. É isso que você tanto quer? Cai de boca e deixa ele durão que hoje vou te estuprar!”. Leandro quase goza de excitado com Nico ali em pé, com sua voz de malandro dizendo que vai estuprá-lo. Ele sabe que vai mesmo, aqueles 24 cm têm esse poder, podem até parti-lo ao meio. Nico segura Leandro pelos cabelos e faz o movimento de vai-e-vem. Leandro engasta com o pau já bem duro, muito grosso a ponto de encher toda a sua boca. Tenta tirar para respirar um pouco, mas leva um tapa na cara. “Não mandei parar, chupa”. Enquanto chupa os olhos procuram os de Nico. “Putinha. Gosta de um pauzão, não é?” Leandro faz um sinal afirmativo com a cabeça enquanto tenta abocanhar um pouco mais da metade do pau de Nico, que já está plenamente duro. Muito duro, em pé. “Isso, sua boquinha já fez o trabalho de deixar ele bem durão, agora vou te enrabar, tira essa calcinha aí que vou te foder”.

Leandro tira toda a roupa e fica de quatro sobre o sofá. Nico dá dois tapas na bundinha branca de Leandro, marcas vermelhas ficam estampadas. “Ah! Vou foder gostoso esse cuzinho”. Diz com voz rouca de tarado. Leandro sabe que Nico gosta de foder um carinha novo como ele e que fode bichas mais velhas como Lélio por grana mesmo. Nico enfia o dedo no cu ainda seco e não preparado para receber a pica que parece uma naja feroz. Derrama um pouco de gel lubrificante no rabinho de Leandro, enfia o dedo médio, ouve o gemido baixinho do dono do cuzinho rosado. Enfia dois dedos. Um gemido um pouco mais alto. Ri. Enfia três dedos, tira, enfia. “Relaxa. Abre bem essa bundinha, tenho que deixar esse cuzinho bem relaxado para caber minha vara dentro”. Leandro relaxa, mas está excitado demais e um pouco tenso, sabe que vai ser foda agüentar tudo aquilo. Mas quer. Sonha com a vara de Nico desde a primeira vez que experimentou. Os quatro dedos da mão de Nico fodem o cuzinho de Leandro que geme alto. “Isso, assim que eu gosto. Geme, viadinho”.

Nico coloca uma camisinha de tamanho maior que as convencionais e unta com bastante gel, posiciona na entrada do cuzinho de Leandro o pau que segura firme com uma mão, a outra mão segura Leandro pelo quadril. Um tapa antes e o tão esperado finco. O encaixe e ambas as mãos agarram Leandro como se fossem garras de ferro, impossível pensar em tirar o cu da reta. Nico enfia sem dó e sem parar até que entre tudo, os 24 cm. Leandro acha que está sendo rasgado, uma dor horrível, nunca sentida antes. O gemido que sai mais parece o último grunhido da hora da morte. Sente que vai vomitar. Parece que o pau está estraçalhando e esmagando tudo o que tem dentro do seu ventre.

Não dá para escapar. Não resta outra opção a não ser agüentar firme, relaxar e gozar, como manda a ministra. Sabe que a foda com Nico vai ser uma longa viagem, ele demora gozar. Nico com seu corpo grande e forte sobe sobre Leandro envolvendo-o com suas coxas musculosas e fode como se fosse um cachorro grande trepando sobre o outro bem menor, exatamente como Alexandre Frota faz nos seus filmes quando pega uma mulher de quatro. Segura Leandro quase o levantando no ar e mexe o quadril impiedosamente ignorando os gemidos e gritos de dor.

Hora de mudar de posição. Nico tira o pau, Leandro percebe que está tudo bem, não há sangue, está tudo no lugar que deve estar, apenas um pouco aberto. Hum, bem aberto. A dor passa imediatamente. Sim, o climax da coisa está na dor do momento, no ser possuído e dominado. Destruído. Difícil é depois se contentar com fodinhas que não chegam nem aos pés de uma foda com Nico. Frango assado. Nico deixa Leandro quase de cabeça para baixo e enfia o pau dentro. Do jeito que entra vai, Leandro tem a sensação que o pau chegou ao estômago e vai sair pela boca. As estocadas são tão fortes que Nico quase mergulha para dentro de Leandro, que grita sem medo que os vizinhos chamem a polícia temendo estar havendo um espancamento ou um crime de homicídio do apartamento do gayzinho. Depois de uma eternidade Nico tira o pau, arranca a camisinha, joga-a na cara de Leandro e despeja sua porra quente que derrama sobre o peito e cara deste. Nico urra enquanto goza. Faz careta. Do jeito que está Leandro começa se punhetar para gozar. Nico enfia quadros dedos no cu dele e faz movimento de vai-e-vem. Leandro goza muito também. Leva um tapa na bunda. “Serviço feito, criança. Vou tomar uma ducha, beleza?”.

9

“Está feito.” Diz Jean ao telefone a Pablo. “O que está feito?”. “Acabei de te mandar um email com um link. Entre e veja”. “Espera um pouco, estou em frente ao computador... Sim, seu email chegou”. Pablo clica no link, abre uma página do SexTube. Loading... É um vídeo de 3 minutos e 47 segundos. Play. Nico aparece sobre uma cama de quatro pelado apenas com uma corrente prateada no pescoço enquanto um velhote o enraba por trás e diz obscenidades. Ao lado uma mulher impassível assiste a cena. O gigantesco pau de Nico pende molengo, aquilo não causa nenhum tesão. Está claro que ele está dando a bunda exclusivamente por grana. “Meu Deus!”. Pablo ainda está com Jean na linha. “Você ficou louco. Sabe quem é o coroa nesse festim licencioso?”. Pergunta não acreditando no que vê. “Sei. Sim”. Pablo assiste ainda os instantes finais do vídeo, a cena é a mesma, durante o tempo todo Nico permanece de quatro com a bunda virada para o coroa que fode o michê. O problema é que o coroa barrigudo e sua mulher são pessoas importantes e muito conhecidas na sociedade, ele é um empresário poderoso e influente também no meio político. “Como você conseguiu essa bomba?”. “Lembra que te falei que tinha como conseguir? Foi beijando na boca, fazendo meia-nove e troca-troca com um sujeitinho asqueroso que me deu o vídeo em troca de sexo”. Pablo deu play outra vez para assistir novamente. O vídeo é incrível, a câmera está instalada num ângulo que além de pegar todos os movimentos dá o rosto dos três, é impossível dizer que eles não são eles e que não está rolando o que está rolando. “Quem é esse cara que te passou essa merda?”. “É o viado nojento que vivia dando em cima de mim, ele é assessor do coroa...”. “Isso vai dar merda. Você postou isso agora?”. “Há pouco, mas disparei emails com o link para todo mundo e como o vídeo não é pesado, mandei no email de um tanto de gente...”. “Cara, você vai se ferrar...”. “Queria ver a cara do Lélio”. “Você mandou para ele também?”. “Sim. Mandei o link e o vídeo em anexo”. Pablo desliga sem dizer mais nada. Sente forte cheiro de merda no ar se espalhando por todos os lados.

Nico chega ao apartamento de Lélio. Ele ligou pedindo que viesse urgente. Lélio está estranho. Nico tenta dar um beijo, mas Lélio vira o rosto sério. “Vem cá”. Passam da sala para o que Lélio chama de estúdio, um ambiente amplo com um monte de coisas que lembram um local de trabalho de um estilista, num dos cantos na mesa um notebook ligado, Lélio indica a cadeira para Nico sentar, maximiza uma janela e dá play no programa. A cena é a mesma que está sendo vista por dezenas de pessoas, blogueiros, formadores de opinião, empresários, políticos e escritores de contos eróticos desocupados. Nico fica branco quando na tela surge ele dando a bunda para um coroa e uma mulher assistindo tudo. Lélio está transtornado, anda em círculos pela sala com uma mão na cabeça e a outra abanando no ar. “Você me disse que tinha parado de fazer programa...”. “Eu parei... Isso aí foi antes...”. “Mentira. Mentira. Está vendo essa corrente que você aparece usando no vídeo? É a mesma que você está usando agora e que é a corrente de prata de oitocentos reais que eu ainda tenho nove parcelas para pagar, te dei mês passado...”. Nico não diz nada. Fica em silêncio. Parece mais envergonhado do que ciente da gravidade da situação. “Cara. E essa de você dar a bunda, para mim é novidade...”. “Eu, eu... Eu estava precisando de grana, foi a primeira e única vez. Ele ofereceu uma grana preta para me comer e o pinto dele é bem pequeno...”. Pinto pequeno, como se isso justificasse o fato de dar a bunda sem comprometer a virilidade. “Você sabe quem é esse coroa?”. Nico faz um sinal com a cabeça que tanto poder ser sim como não. “Ah! É um figurão cheio da grana, aí.” “Ah! Esse figurão cheio da grana aí, é um empresário e político poderoso que a essa altura deve estar enfartando e querendo matar quem deixou vazar esse vídeo...”. O rapaz parece ter caído em si e tomado consciência da gravidade da situação. “Você sabia que estava sendo filmado?”. “Não”. “Faz idéia de quem pode ter dado uma copia do filme ao Jean?”. “Ao Jean?”. “Sim. Ao Jean. Foi ele que colocou essa merda na internet e distribuiu para todo mundo...”. “Filha da puta. Vou matar a bichinha”. “Vai nada. Cala a boca que você está metido numa baita encrenca. Precisamos achar um jeito de te por fora de circulação urgente...”. Lélio continua andando de um lado para outro. Abre uma gaveta e tira um envelope. “Toma. Aqui dentro tem toda a grana que eu tenho. Não é grande coisa, mas dá para você comprar uma passagem para longe e se bancar por uns dias. Some, desaparece por um bom tempo. Quando as coisas melhorarem para o seu lado você volta. Mas some ainda hoje, agora. Esse coroa pode mandar te apagar...”.

A campainha da porta do apartamento toca. Ninguém interfonou avisando que estava subindo. Deve ser algum vizinho do prédio... Jean abre à porta imaginando que seja a vizinha, dona Cacilda que sempre aparece sem avisar trazendo um pedaço de torta para ter oportunidade de comentar as suas críticas que lê no jornal. Diz ser sua fã. “Você?”. Jean não tem tempo para dizer mais nada, leva um murro no meio da cara e cai para trás. Bate a cabeça na mesinha de centro e antes que tenha tempo de recobrar-se sente mãos fortes envolverem seu pescoço. O corpo grande e forte senta-se sobre seu peito. As coxas musculosas imobilizam seus braços. O ar falta aos pulmões. Sente que está morrendo, o pânico da morte estampa-se em sua face. Sem ao menos conseguir se debater ou emitir algum som Jean agoniza e o roxo do forro dos caixões de defunto pobre toma seu rosto. Morreu...

10

“Tudo bem, mesmo? Você está bem diferente...”. Oscar balança a cabeça num gesto ambíguo. Sim, ele realmente está diferente, como toda pessoa depois que passa por um grande evento negativo ou mesmo positivo na vida. As coisas mudam. “Você ficou famoso...”. Leandro, não sabe o que dizer, falta assunto entre eles. O desejo que tinha por Oscar acabou. Só aceitou o convite de encontrá-lo na terceira vez que o pitboy acusado de ser um dos espancadores da empregada doméstica Maria Cecília ligou insistindo pelo encontro. Leandro deu à mesma justificativa duas vezes, sem tempo. Por fim resolveu marcar o encontro. Um encontro rápido, em nenhum lugar em especial, na rua, no caminho da padaria que Leandro vai depois. De repente Oscar começar falar sem parar. Ele precisa desabafar, as coisas estão difíceis para ele, perdeu amigos, a confiança dos pais e de todo mundo. A vida mudou, foi obrigado a voltar estudar, parar com a academia, está trabalhando no escritório de advocacia do pai e perdeu o carro novo que havia ganhado há menos de um mês. Está enrolado com a justiça, vai pagar cestas básicas e prestar serviço comunitário. A grana que tem é o mesmo irrisório salário que o escritório do pai paga aos estagiários e dessa grana tem que sair as três cestas básicas a que está condenado a pagar por dois anos. Aos sábados vai prestar serviço comunitário durante um ano. Leandro ouve em silêncio, não sabe o que dizer. Não sabe se tem pena ou acha justo ou até pouco o que está acontecendo com Oscar. Ele diz que é influência dos amigos, que nunca teve raiva de gay, nem de travesti e muito menos das prostitutas. Leandro faz uma careta indefinível e diz – “Passarinho que anda com morcego um dia acorda de cabeça para baixo”. Ditadinho pop preferido de 9 entre 10 bichinhas. “Bem isso, cara. Minha vida de uma noite para o dia virou de ponta-cabeça”. Ele continua bonito, gostoso, enfim, é o mesmo cara, talvez um pouco mais perfeito até, com certa sensibilidade e disposto a repensar a vida. “Eu preciso ir”. Agora Leandro tem seus interesses voltados para outro e Oscar representa uma página virada, uma perigosa página virada. “Eu sei. Você foi legal. Valer ter vindo me encontrar. Quis te procurar também para dizer que não iria dar certo. Mas foi legal te conhecer. Até um dia...”. É um clima de despida ou até mesmo de um fora, parece que é Oscar quem está dando o fora, mas na real ele está levando, levou um fora da vida, está levando um fora de Leandro também. “É isso então, até um dia cara. Se cuida”.

Leandro passa na padaria para comprar cigarros, cervejas, vários tipos de salgadinhos, uma garrafa de vodka, enfim, pega todos os itens da lista, não quer esquecer nada que foi encomendado. Precisa agradar o seu macho. Agora sim pode dizer que tem um macho. Um macho em casa, esperando por ele. Pronto para ele. Com 24 cm entre as pernas exclusivamente para ele. “Aí. Encontrou o cara?”. Nico quer saber assim que Leandro abre a porta do apartamento e entra. “Encontrei. Está arrependidão de tudo o que fez”. “Agora é tarde, marcou bobeira. Malandro que é malandro tem que ser esperto, como o Nico aqui...”. Nico agarra Leandro por trás e morde o pescoço. “Vem cá meu viadinho, gostoso. Acordei taradão...”. Nem era preciso dizer, Nico está só de cueca com o pau mais da metade para fora... Leandro se vira, solta as sacolas no chão e segura o pau do seu macho com as duas mãos, adora fazer isso, mesmo segurando o pau com as duas mãos, ainda sobra pau... Ganha um gostoso beijo na boca, a língua insaciável de Nico explora todos os seus buraquinhos, dos ouvidos ao cuzinho... “Cara, não agüento mais ficar fechado neste apê, já são duas semanas sem poder sair...”. “Daqui a duas semanas estou de férias e a gente vaza, vamos para uma praia deserta e ficamos lá o tempo que você quiser...”. Nico arranca a camiseta de Leandro para morder os mamilos. Gritinhos... “Isso meu viadinho, grita que eu gosto”. “Cara, a gente vai ser curtir muito...”, diz Leandro se contorcendo todo e deixando Nico mais louco de tesão, nessa altura já está quase pelado. “É! Dinheiro não é mais problema, com a grana violenta que o coroa me pagou para apagar aquelas duas bichas sacanas, a vida vai ser só festa”. Embaixo da cama nova de casal que Leandro comprou depois daquele dia que Nico apareceu apavorado está à mochila de dinheiro que Nico chegou trazendo nas costas.

Quando Nico saiu do apartamento de Lélio com apenas um pouco de grana para fugir, foi abordado por um carro preto e “convidado” a entrar. Naquele instante tinha Nico tinha certeza que sua carreira tinha chegado ao fim, como Lélio havia previsto, estava correndo risco de perder a vida. Dentro do carro o coroa que agora sabia que era um figurão muito mais importante do que pensava. O figurão explicou que poderia poupar a vida de Nico e ainda ajuda-lo muito, mas para isso precisaria fazer um pequeno favorzinho, um, não. Dois – completou com um sorriso mórbido levantando dois dedos diante de olhos sedentos por sangue. Disse qual era o serviço que Nico precisa fazer, mostrou uma mochila cheia de dinheiro e disse – “Vai, faz a tua parte e volta pegar a tua recompensa e some”. Nico sabia que se não fizesse o que o coroa pedia, a sua vida iria antes que daqueles dois otários. Os viados haviam ferrado todo mundo. O figurão iria tirar o vídeo da internet sem problemas e ainda ameaçaria o site com um processo, a sua assessoria de imprensa já havia soltado uma nota declarando que se travava de uma montagem amadora e tosca e que os responsáveis responderiam judicialmente. Na verdade o coroa sabia que em poucos dias ninguém mais lembraria de nada e no vídeo ele aparecia comendo e não dando a bunda, bem menos mal. Os dois responsáveis pelo vazamento do material, sim, esses deveriam receber uma punição exemplar. Ninguém melhor que o michê para aplicar o corretivo, afinal, ele também aparece na fita, é talvez a maior vítima. Se algo der errado, paga o pato sozinho. Se for esperto se dá bem e fica com dinheiro para ajeitar a vida. Duas horas depois Nico encontrava o coroa no lugar combinado para pegar a mochila de dinheiro. Contou como fez o serviço. Primeiro foi ao apartamento de Jean e deu cabo da bicha com as próprias mãos, não demorou nada e já tinha um cadáver roxo no chão da sala, assegurou. Serviço limpo e tranqüilo sem testemunhas, sem barulho e sem provas. Depois a sorte o ajudou, pegou o ex-assessor do coroa colocando malas no carro, pronto para fugir. Esmagou a cabeça da bicha com o extintor de incêndio da garagem do prédio e jogou o corpo dentro do porta-malas do carro, está lá, afirmou. “Muito bem, meu rapaz. Você trabalhou bem, espero que não tenha deixado rastro mesmo, que tenha mais sido pego por outra câmera escondida, porque se foi, já aviso, se fode sozinho”. Riu do seu próprio humor negro. Nico não conseguiu achar graça, se apossou de sua mochila cheia de grana pronto para vazar. “E agora suma”. Ordenou o coroa acostumado a mandar. O michê assassino saiu com medo que o coroa mandasse alguém segui-lo, que pudessem dar a ele o mesmo fim que Jean e o assessor tiveram. Andou por horas sem rumo, indo de um lugar ao outro, sempre em público, shoppings e outros lugares com gente. Depois lembrou do que o coroa disse. A essa altura certamente os corpos já haviam sido encontrados e se houver câmera nas portarias dos prédios, a polícia já tem suas imagens e de um jeito ou de outro sabe que é o principal suspeito. Precisa se esconder. Primeiro pensa em um hotel, depois em sair da cidade. Tudo parece perigoso. Lembra de Leandro. Sabe que a bichinha fará qualquer coisa que pedir. Vai para o apê de Leandro, conta toda a verdade e propõe ficarem juntos. Leandro topa correr o risco, afinal são 24 cm e grana para viverem uma longa aventura sexual, se o cu agüentar.

THE END