domingo, 26 de agosto de 2007

10

“Tudo bem, mesmo? Você está bem diferente...”. Oscar balança a cabeça num gesto ambíguo. Sim, ele realmente está diferente, como toda pessoa depois que passa por um grande evento negativo ou mesmo positivo na vida. As coisas mudam. “Você ficou famoso...”. Leandro, não sabe o que dizer, falta assunto entre eles. O desejo que tinha por Oscar acabou. Só aceitou o convite de encontrá-lo na terceira vez que o pitboy acusado de ser um dos espancadores da empregada doméstica Maria Cecília ligou insistindo pelo encontro. Leandro deu à mesma justificativa duas vezes, sem tempo. Por fim resolveu marcar o encontro. Um encontro rápido, em nenhum lugar em especial, na rua, no caminho da padaria que Leandro vai depois. De repente Oscar começar falar sem parar. Ele precisa desabafar, as coisas estão difíceis para ele, perdeu amigos, a confiança dos pais e de todo mundo. A vida mudou, foi obrigado a voltar estudar, parar com a academia, está trabalhando no escritório de advocacia do pai e perdeu o carro novo que havia ganhado há menos de um mês. Está enrolado com a justiça, vai pagar cestas básicas e prestar serviço comunitário. A grana que tem é o mesmo irrisório salário que o escritório do pai paga aos estagiários e dessa grana tem que sair as três cestas básicas a que está condenado a pagar por dois anos. Aos sábados vai prestar serviço comunitário durante um ano. Leandro ouve em silêncio, não sabe o que dizer. Não sabe se tem pena ou acha justo ou até pouco o que está acontecendo com Oscar. Ele diz que é influência dos amigos, que nunca teve raiva de gay, nem de travesti e muito menos das prostitutas. Leandro faz uma careta indefinível e diz – “Passarinho que anda com morcego um dia acorda de cabeça para baixo”. Ditadinho pop preferido de 9 entre 10 bichinhas. “Bem isso, cara. Minha vida de uma noite para o dia virou de ponta-cabeça”. Ele continua bonito, gostoso, enfim, é o mesmo cara, talvez um pouco mais perfeito até, com certa sensibilidade e disposto a repensar a vida. “Eu preciso ir”. Agora Leandro tem seus interesses voltados para outro e Oscar representa uma página virada, uma perigosa página virada. “Eu sei. Você foi legal. Valer ter vindo me encontrar. Quis te procurar também para dizer que não iria dar certo. Mas foi legal te conhecer. Até um dia...”. É um clima de despida ou até mesmo de um fora, parece que é Oscar quem está dando o fora, mas na real ele está levando, levou um fora da vida, está levando um fora de Leandro também. “É isso então, até um dia cara. Se cuida”.

Leandro passa na padaria para comprar cigarros, cervejas, vários tipos de salgadinhos, uma garrafa de vodka, enfim, pega todos os itens da lista, não quer esquecer nada que foi encomendado. Precisa agradar o seu macho. Agora sim pode dizer que tem um macho. Um macho em casa, esperando por ele. Pronto para ele. Com 24 cm entre as pernas exclusivamente para ele. “Aí. Encontrou o cara?”. Nico quer saber assim que Leandro abre a porta do apartamento e entra. “Encontrei. Está arrependidão de tudo o que fez”. “Agora é tarde, marcou bobeira. Malandro que é malandro tem que ser esperto, como o Nico aqui...”. Nico agarra Leandro por trás e morde o pescoço. “Vem cá meu viadinho, gostoso. Acordei taradão...”. Nem era preciso dizer, Nico está só de cueca com o pau mais da metade para fora... Leandro se vira, solta as sacolas no chão e segura o pau do seu macho com as duas mãos, adora fazer isso, mesmo segurando o pau com as duas mãos, ainda sobra pau... Ganha um gostoso beijo na boca, a língua insaciável de Nico explora todos os seus buraquinhos, dos ouvidos ao cuzinho... “Cara, não agüento mais ficar fechado neste apê, já são duas semanas sem poder sair...”. “Daqui a duas semanas estou de férias e a gente vaza, vamos para uma praia deserta e ficamos lá o tempo que você quiser...”. Nico arranca a camiseta de Leandro para morder os mamilos. Gritinhos... “Isso meu viadinho, grita que eu gosto”. “Cara, a gente vai ser curtir muito...”, diz Leandro se contorcendo todo e deixando Nico mais louco de tesão, nessa altura já está quase pelado. “É! Dinheiro não é mais problema, com a grana violenta que o coroa me pagou para apagar aquelas duas bichas sacanas, a vida vai ser só festa”. Embaixo da cama nova de casal que Leandro comprou depois daquele dia que Nico apareceu apavorado está à mochila de dinheiro que Nico chegou trazendo nas costas.

Quando Nico saiu do apartamento de Lélio com apenas um pouco de grana para fugir, foi abordado por um carro preto e “convidado” a entrar. Naquele instante tinha Nico tinha certeza que sua carreira tinha chegado ao fim, como Lélio havia previsto, estava correndo risco de perder a vida. Dentro do carro o coroa que agora sabia que era um figurão muito mais importante do que pensava. O figurão explicou que poderia poupar a vida de Nico e ainda ajuda-lo muito, mas para isso precisaria fazer um pequeno favorzinho, um, não. Dois – completou com um sorriso mórbido levantando dois dedos diante de olhos sedentos por sangue. Disse qual era o serviço que Nico precisa fazer, mostrou uma mochila cheia de dinheiro e disse – “Vai, faz a tua parte e volta pegar a tua recompensa e some”. Nico sabia que se não fizesse o que o coroa pedia, a sua vida iria antes que daqueles dois otários. Os viados haviam ferrado todo mundo. O figurão iria tirar o vídeo da internet sem problemas e ainda ameaçaria o site com um processo, a sua assessoria de imprensa já havia soltado uma nota declarando que se travava de uma montagem amadora e tosca e que os responsáveis responderiam judicialmente. Na verdade o coroa sabia que em poucos dias ninguém mais lembraria de nada e no vídeo ele aparecia comendo e não dando a bunda, bem menos mal. Os dois responsáveis pelo vazamento do material, sim, esses deveriam receber uma punição exemplar. Ninguém melhor que o michê para aplicar o corretivo, afinal, ele também aparece na fita, é talvez a maior vítima. Se algo der errado, paga o pato sozinho. Se for esperto se dá bem e fica com dinheiro para ajeitar a vida. Duas horas depois Nico encontrava o coroa no lugar combinado para pegar a mochila de dinheiro. Contou como fez o serviço. Primeiro foi ao apartamento de Jean e deu cabo da bicha com as próprias mãos, não demorou nada e já tinha um cadáver roxo no chão da sala, assegurou. Serviço limpo e tranqüilo sem testemunhas, sem barulho e sem provas. Depois a sorte o ajudou, pegou o ex-assessor do coroa colocando malas no carro, pronto para fugir. Esmagou a cabeça da bicha com o extintor de incêndio da garagem do prédio e jogou o corpo dentro do porta-malas do carro, está lá, afirmou. “Muito bem, meu rapaz. Você trabalhou bem, espero que não tenha deixado rastro mesmo, que tenha mais sido pego por outra câmera escondida, porque se foi, já aviso, se fode sozinho”. Riu do seu próprio humor negro. Nico não conseguiu achar graça, se apossou de sua mochila cheia de grana pronto para vazar. “E agora suma”. Ordenou o coroa acostumado a mandar. O michê assassino saiu com medo que o coroa mandasse alguém segui-lo, que pudessem dar a ele o mesmo fim que Jean e o assessor tiveram. Andou por horas sem rumo, indo de um lugar ao outro, sempre em público, shoppings e outros lugares com gente. Depois lembrou do que o coroa disse. A essa altura certamente os corpos já haviam sido encontrados e se houver câmera nas portarias dos prédios, a polícia já tem suas imagens e de um jeito ou de outro sabe que é o principal suspeito. Precisa se esconder. Primeiro pensa em um hotel, depois em sair da cidade. Tudo parece perigoso. Lembra de Leandro. Sabe que a bichinha fará qualquer coisa que pedir. Vai para o apê de Leandro, conta toda a verdade e propõe ficarem juntos. Leandro topa correr o risco, afinal são 24 cm e grana para viverem uma longa aventura sexual, se o cu agüentar.

THE END